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Há relação entre dor e o tempo em que passamos sentados? (Parte 1)

  • Foto do escritor: Pedro Fonseca
    Pedro Fonseca
  • 21 de ago. de 2018
  • 4 min de leitura

Uma boa parte dos meus pacientes com dor musculoesquelética

relatam piora dos sintomas após passarem o dia sentados no trabalho. Pensando nisso, recorri à literatura científica para tentar responder alguns questionamentos:

  1. Esse cenário é exclusivo da minha prática ou reflete uma situação comum à todos profissionais que lidam com dor?

  2. Trabalhar o dia todo sentado, mas compensar com atividades físicas regulares no restante do dia é o suficiente para minimizar a incidência de dores lombares?

  3. As dores crônicas estão ligadas exclusivamente à posição sentada ou à falta de movimento em geral? Ou seja, os trabalhadores que passam o dia todo em pé também relatam mais dores?

  4. A incidência de dores no trabalho pode ser resumida à fatores mecânicos como postura? Ou será que fatores ambientais e psicossociais como a satisfação profissional, relação com a equipe e design da empresa podem estar envolvidos?

  5. O que fazer para minimizar esse problema? Vamos às respostas...

Existe relação?

Após a pesquisa, percebi que os estudos que buscavam responder essa pergunta utilizavam basicamente duas formas para medir o tempo sentado: através de questionários e de acelerômetros (instrumento utilizado, entre outras coisas, para detectar movimentos e inclinações do corpo). Ambos foram incluídos, mas reconheço que a utilização do dispositivo gera dados mais confiáveis que o autorrelato através dos questionários.

Apesar de alguns estudos não conseguirem estabelecer uma relação direta [1], a maioria encontrou uma relação positiva entre o tempo sentado e dor [2-6], inclusive os que utilizaram acelerômetros. Interessante notar que essa associação foi estabelecida não só com dores na coluna lombar, mas também na coluna cervical, ombros e joelhos (dor patelofemoral).

Em um dos artigos, os autores utilizaram um dispositivo nas cadeiras de trabalho semelhante a uma almofada, com o objetivo de identificar as posições assumidas por 20 indivíduos durante o dia. Além disso, esses trabalhadores responderam a questionários que os dividiam em dois grupos: com ou sem dor lombar.

Os resultados mostraram que, em média, as posturas mais assumidas durante o dia foram as de posição vertical (ereto) e inclinado para frente. Veja na imagem abaixo:

Até aí tudo bem, já que era de se imaginar que essas seriam as posições mais adotadas, tendo em vista que frequentemente esses indivíduos trabalham com telas de computadores à sua frente.

Mas os autores também perceberam que os trabalhadores com desconfortos nas costas nas últimas 24 horas, exibiram um comportamento mais estático enquanto estavam sentados. É importante ressaltar que esse dado retrata apenas um comportamento comum desse grupo, não uma relação de causa e efeito.

Se exercitar após o expediente ajuda?

Entendo que, na maioria dos casos, se demitir por esse motivo não é uma opção. Talvez possa haver uma alternativa. Seria a atividade física uma delas? Quer dizer, a atividade física regular poderia neutralizar o efeito de trabalhar sentado nas dores no corpo?

Um estudo publicado este ano (7) tinha como um dos objetivos examinar a associação entre o nível de atividade física e dores em indivíduos > 50 anos, que trabalhavam a maior parte do tempo sentados. Eles observaram que, considerando os indivíduos que passavam mais tempo sentados no trabalho, os inativos apresentaram maiores taxas de dores lombares que os praticantes de atividade física.

Apesar de animador, o resultado desse estudo não é o suficiente para afirmarmos que uma atitude compensa a outra. Na minha opinião, é mais uma medida importante entre outras que podem ser tomadas.

E se trabalharmos o tempo todo de pé?

Seria essa a solução? Se o problema é trabalhar o dia todo sentado, deveríamos trabalhar só de pé?

Infelizmente, não é tão simples assim. Profissões que requerem tempo prolongado de pé, como é o caso de cirurgiões, enfermeiras, cabeleireiras e comerciantes por exemplo, também apresentam dores no corpo como uma das principais queixas (8). Os sintomas musculoesqueléticos mais relatados são dores nos pés, inchaços nas pernas, fadiga muscular generalizada, dor lombar e rigidez no pescoço e ombros (9).

Na Holanda, por exemplo, diretrizes foram desenvolvidas com o objetivo de reduzir o estresse físico relacionado a essas profissões. Uma das medidas, foi a criação de um modelo de classificação de risco que faz uma analogia com o sinal de trânsito:

Parece não ser essa a solução do problema. Mas qual será?

Fique ligado! Acompanhe essa série de publicações e aprenda tudo o que você precisa saber para ter menos dores no trabalho. Na segunda parte desse artigo escreverei sobre postura.

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1- Balling M, Holmberg T, Petersen CB, Aadahl M, Meyrowitsch DW, Tolstrup JS. Total sitting time, leisure time physical activity and risk of hospitalization due to low back pain: The Danish Health Examination Survey cohort 2007-2008. Scand J Public Health. 2018

2- Hallman DM, Gupta N, Mathiassen SE, Holtermann A. Association between objectively measured sitting time and neck-shoulder pain among blue-collar workers. Int Arch Occup Environ Health. 2015

3- Gupta N, Christiansen CS, Hallman DM, et al. (2015)Is objectively measured sitting time associated with low back pain? A cross-sectional investigation in the NOMAD study. PLoS One.

4- Park SM, Kim HJ, Jeong H, Kim H, Chang BS, Lee CK, Yeom JS. Longer sitting time and low physical activity are closely associated with chronic low back pain in population over 50 years of age: a cross-sectional study using the sixth Korea National Health and Nutrition Examination Survey. Spine J. 2018

5 - Zemp R, Fliesser M, Wippert PM, Taylor WR, Lorenzetti S. Occupational sitting behaviour and its relationship with back pain - A pilot study. Appl Ergon. 2016 6- Collins NJ, Vicenzino B, van der Heijden RA, van Middelkoop M. Pain During Prolonged Sitting Is a Common Problem in Persons With Patellofemoral Pain. J Orthop Sports Phys Ther. 2016

7- Park SM, Kim HJ, Jeong H, Kim H, Chang BS, Lee CK, Yeom JS. Longer sitting time and low physical activity are closely associated with chronic low back pain in population over 50 years of age: a cross-sectional study using the sixth Korea National Health and Nutrition Examination Survey. Spine J. 2018 Apr 17.

8- Waters TR, Dick RB. Evidence of health risks associated with prolonged standing at work and intervention effectiveness. Rehabil Nurs. 2015

9- Canadian Centre for Occupational Health and Safety (CCOHS). Basic information on Standing at work. 2014

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