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Dor no trabalho: apenas uma questão de ergonomia? (Parte 3)

  • Foto do escritor: Pedro Fonseca
    Pedro Fonseca
  • 28 de out. de 2018
  • 3 min de leitura

Nos últimos dois textos postados aqui, abordei a associação entre postura/tempo prolongado em uma posição e dores musculoesqueléticas no trabalho. Vimos que passar o dia todo só de pé ou só sentado na mesma posição, aumenta as suas chances de apresentar dores pelo corpo. Mas será que isso é tudo? Desde que estejamos sempre em movimento, estamos livres das dores?

Infelizmente a resposta é: não! Em primeiro lugar, ninguém - exceto em algumas pessoas portadoras de doenças raras - está livre de sentir dor. Dores são importantes para nos alertar sobre alguns perigos, o problema é quando esse sistema de alerta passa a apresentar algumas falhas. Na maioria das vezes, quando isso acontece, ele fica mais sensível. Isso significa que o corpo passa a enviar sinais de perigo (dor) com frequência e intensidade maiores, mesmo em situações em que estamos seguros.

O que pode contribuir para deixar o sistema de alarme muito sensível?

Tudo o que faz o cérebro interpretar que precisamos de proteção tem o potencial de aumentar a sensibilidade do alarme. Um machucado é o exemplo mais óbvio. Entretanto, não é necessária a presença de dano tecidual para sentirmos dor. Inclusive, é muito comum encontrarmos diversas alterações nos tendões, discos e ossos e não apresentarmos sintomas (veja a postagem sobre esse assunto clicando aqui). A dor é mais complexa que isso. Envolve não só aspectos biológicos, mas também psicossociais. Emoções, pensamentos e comportamentos são gatilhos para aumentar ou diminuir a percepção de perigo, ajustando a sensibilidade do seu sistema nervoso central.

O que isso tem a ver com meu trabalho?

Pesquisadores têm buscado responder a essa pergunta através de estudos sobre as interações entre o trabalhador, seus colegas e o ambiente de trabalho. Foram aplicados questionários específicos, a fim de traçar um perfil dos trabalhadores de diversos campos de atuação. Dessa forma, foi possível identificar o que os participantes com mais queixas musculoesqueléticas (dores na coluna e membros) tinham em comum. Veja os resultados:

  • Altas demandas de trabalho

  • Baixo controle do trabalho – baixa autonomia

  • Baixa satisfação no trabalho

  • Trabalho altamente repetitivo

Ressalto que a maioria dos estudos científicos publicados são transversais, ou sejam, retratam apenas o momento em que os dados foram coletados. Portanto, apesar de apontarem associação entre dor e fatores psicossociais, não é possível estabelecer uma relação de causa e efeito entre essas variáveis.

De qualquer forma, apenas reconhecer essa conexão é só a ponta do iceberg. Apesar de fundamental, não é o suficiente para elaborar estratégias eficazes de tratamento e prevenção de dores no trabalho. A solução para esse problema depende da capacidade do empregador e do empregado em intervir, guiados por uma análise profunda e auto-crítica.

Fique ligado! Na postagem do próximo mês discutirei quais são as possíveis abordagens e como selecioná-las de acordo com a sua necessidade e de sua equipe. Aproveite para assinar a newsletter e ser o primeiro a saber quando a postagem sair do forno!

Fontes: Sterud T, Tynes T.Occup Environ Med2013;70:296–302; Andersen JH, Haahr JP, Frost P. Risk factors for more severe regional musculoskeletal symptoms: a two-year prospective study of a general working population. Arthritis Rheum. 2007 Apr;56(4):1355-64; Fischer, Frida Marina. (2012). Relevância dos fatores psicossociais do trabalho na saúde do trabalhador. Revista de Saúde Pública, 46(3), 401-406; Cardoso, Jefferson Paixão, Araújo, Tânia Maria de, Carvalho, Fernando Martins, Oliveira, Nelson Fernandes de, & Reis, Eduardo José Farias Borges dos. (2011). Aspectos psicossociais do trabalho e dor musculoesquelética em professores. Cadernos de Saúde Pública, 27(8), 1498-1506.


 
 
 

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